25 de fevereiro de 2008
Vozes Alfonsinas em gravação para a RTP2
As Vozes Alfonsinas participaram na gravação para a RTP2 de um programa a ser exibido em breve.
O programa chama-se "Percursos da música portuguesa", concebido e apresentado pelo maestro Jorge Matta, realizado para a RTP2 (Janeiro a Março de 2008). A produção é da Valentim de Carvalho.
Mais novidades para breve.
6 de fevereiro de 2008
Música moçárabe: um enigma histórico? (Cont.)
Os moçárabes participavam também da cultura que os rodeava; progressivamente, aprenderam a língua árabe e assimilaram as suas tradições poéticas. Foi da confluência da antiga canção moçárabe com a poesia árabe clássica que nasceram os géneros poético-musicais mais característicos do Ândalus medieval, o zajal e o muwaxxah. A sua temática tanto podia ser profana, com frequente alusão ao convívio alcoólico, como assumir contornos místicos, de linhagem sufi. Ouviremos exemplos de ambas as situações. No mundo islâmico não se usava notação musical, pelo que só conhecemos as melodias de algumas canções, cujo texto foi escrito nos séculos XII ou XIII, porque elas foram exportadas para o norte de África e para o Próximo-Oriente; as versões que aqui se apresentam representam, por isso, várias camadas de reinterpretação e sedimentação musical, ocorridas entre o século XII e o século XX.
Finalmente, os moçárabes assumiram um importante papel de intermediários culturais entre o mundo cristão e o mundo islâmico. É interessante constatar que foi na corte de um dos mais activos combatentes dos muçulmanos, o rei castelhano Afonso X, o Sábio (falecido em 1284), que se produziu o mais claro exemplo de assimilação da cultura musical árabo-andaluza. Isso ocorreu nas célebres Cantigas de Santa Maria, um repertório em honra da Virgem escrito em Galego-Português em que se usa a forma poética do zajal árabe e hebraico, com as correspondentes formas musicais, provavelmente representativas da antiga cultura moçárabe.
Ouviremos uma destas cantigas relatar um milagre ocorrido em Faro durante o período islâmico, milagre que sustenta a identidade moçárabe da cidade (colocada sob a invocação de Santa Maria), posta em perigo quando daí retiraram a imagem da Virgem. Ouviremos também contar milagres do santuário moçárabe de Terena (Alentejo), com música em que se detecta, por exemplo, um típico ritmo árabe de cinco tempos. Alfonso X não hesitou em usar música culturalmente híbrida para promover a sua devoção mariana, talvez porque o interesse musical supere as fronteiras político-religiosas. Para além das divergências de fé, Alfonso X soube reconhecer, com a sua capacidade de assimilação cultural, a fundamental unidade do espírito humano.
Bom concerto!
5 de fevereiro de 2008
Música moçárabe: um enigma histórico? (Cont.)
Há um pequeno número de manuscritos, em geral relativamente tardios (séculos X-XIII), que conservam o repertório de canto associado ao rito visigótico-moçárabe. Era uma tradição muito rica, com diversos graus de elaboração musical, do mais simples ao mais sofisticado; mas os «neumas» que serviram para transmitir os perfis das melodias não nos dão informação sobre os intervalos cantados, o que faz com que só aquelas peças (pouco mais de trinta) que foram, por sorte, traduzidas para uma notação musical mais informativa a partir do século XII, se possam hoje decifrar. Destas, foram interpretadas três antífonas para a cerimónia de lava-pés na Semana Santa e um tocante responsório da liturgia de defuntos, Dies mei transierunt. Contudo, estando o clero visigótico em comunicação com as regiões europeias mais próximas, houve frequentemente intercâmbio musical, o que nos permitiu algumas adições ao repertório. Assim, o responsório visigótico-moçárabe Conclusit vias meas, exportado para a Gália devido à sua extraordinária expressividade provavelmente no século VII, sobrevive na sua adaptação galicano-gregoriana, enquanto o hino Crux benedicta nitet é uma importação do século XI, relacionando-se a versão melódica hispana com a versão conhecida em Itália.
(Cont.)
4 de fevereiro de 2008
Música moçárabe: um enigma histórico? (Notas ao Programa)
Os moçárabes, ou seja, os cristãos submetidos aos árabes (de facto, aos representantes políticos da hegemonia islâmica na Península, fossem eles árabes, berberes ou autóctones convertidos) foram uma das forças culturais mais importantes na Ibéria dos séculos VIII a XIII. Contudo, o seu papel histórico é difícil de documentar, devido à sua marginalidade política e religiosa. O conhecimento do aspecto musical da sua cultura é particularmente problemático.
Sabemos que a identidade moçárabe era inseparável do culto católico, e consequentemente, das práticas litúrgicas estabelecidas na Península durante os séculos VI e VII, sob domínio visigótico. Estas práticas foram continuadas no sul (o Ândalus) após a conquista árabe, e em certos momentos de perseguição religiosa (porque nem sempre a tolerância vingou no al-Ândalus) grupos de cristãos moçárabes estabeleceram-se nos reinos cristãos do norte, alimentando a vida religiosa local.
(continua)
As Vozes Alfonsinas na Assembleia da República
A 5 de Dezembro de 2007, as Vozes Alfonsinas apresentaram-se no Salão Nobre da Assembleia da República, a convite do seu Presidente, Dr. Jaime Gama, com um programa intitulado O canto moçárabe: da liturgia hispano-visigótica às canções do século XIII.
À sala cheia e à calorosa apreciação do público presente, acresceu uma transmissão televisiva no canal Parlamento.
A originalidade do programa, que é apresentado nas entradas seguintes como Notas ao Programa interpretado, exemplifica a união entre investigação original e qualidade artística, que é timbre das Vozes Alfonsinas desde a sua fundação.