5 de fevereiro de 2008

Música moçárabe: um enigma histórico? (Cont.)


Há um pequeno número de manuscritos, em geral relativamente tardios (séculos X-XIII), que conservam o repertório de canto associado ao rito visigótico-moçárabe. Era uma tradição muito rica, com diversos graus de elaboração musical, do mais simples ao mais sofisticado; mas os «neumas» que serviram para transmitir os perfis das melodias não nos dão informação sobre os intervalos cantados, o que faz com que só aquelas peças (pouco mais de trinta) que foram, por sorte, traduzidas para uma notação musical mais informativa a partir do século XII, se possam hoje decifrar. Destas, foram interpretadas três antífonas para a cerimónia de lava-pés na Semana Santa e um tocante responsório da liturgia de defuntos, Dies mei transierunt. Contudo, estando o clero visigótico em comunicação com as regiões europeias mais próximas, houve frequentemente intercâmbio musical, o que nos permitiu algumas adições ao repertório. Assim, o responsório visigótico-moçárabe Conclusit vias meas, exportado para a Gália devido à sua extraordinária expressividade provavelmente no século VII, sobrevive na sua adaptação galicano-gregoriana, enquanto o hino Crux benedicta nitet é uma importação do século XI, relacionando-se a versão melódica hispana com a versão conhecida em Itália.

(Cont.)

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