24 de dezembro de 2008

Criticas ao programa do CCB de 16 de Dezembro

O concerto já lá vai mas as ondas de choque ainda se fazem sentir.

Diz H[enrique] S[ilveira] em 21 de Dezembro

Excelente concerto

Estou a escutar o concerto de Natal das Vozes Alfonsinas no CCB. Devo dizer que estou deliciado com a qualidade do grupo e da direcção e escolha das obras.

O director, Manuel Pedro Ferreira, e o grupo estão de parabéns por um trabalho de alto nível.


Diz Pedro Boléo, no Público (sem link) também em 21 de Dezembro:

As Vozes Alfonsinas: "Amores divinos e profanos"
Lisboa, Pequeno auditório do Centro Cultural de Belém Terça-feira, 16 de Dezembro, às 19h

Cerca de 100 espectadores As Vozes Alfonsinas apresentaram no CCB um programa ambicioso na sua forma e na sua dimensão. O repertório foi cuidadosamente escolhido, incluindo canções europeias do Renascimento, vilancicos ibéricos dos séculos XV ao século XVIII e cânticos de Natal, a condizer com a quadra. Mas o início do espectáculo continha um risco - era difícil cativar os ouvintes com um canto religioso distante, o Canto da Sibila, segundo a tradição bracarense, quase sempre a uma só voz, e cobertos com capas escuras. Ainda nesta primeira parte em que se falava de amores divinos, "em torno ao Natal", ouviram-se contudo pequenas pérolas musicais que despertaram os ouvidos. Foi o caso de Ad cantus leticie, um discantus para duas vozes muito bem cantado, mostrando-nos as surpresas de uma das primeiras formas de contraponto escritas.

O espectáculo voou depois para os "amores profanos", começando com um excelente momento de Susana Teixeira em Mon seul plaisir de John Bedyngham. Nesta parte cantavam-se canções (algumas em versão instrumental) do manuscrito 714 (códice Porto 714), importante fonte musical do século XV que está na Biblioteca Pública Municipal do Porto. Destaquemos o trio vocal Helas n'array ie jamais mieux, a que só faltou uma afinação mais rigorosa, ou O rosa bella, uma outra belíssima canção de Bedyngham. Quebrado o gelo com estes amores terrestres, com o "aquecimento" dos instrumentos (alaúde, vihuela, rabeque e flautas) e com o calor das bocas, As Vozes Alfonsinas mostraram, depois do intervalo, o verdadeiro objectivo do projecto dirigido por Manuel Pedro Ferreira, ou seja, a interpretação de qualidade de um reportório cuidadosamente estudado, transcrito e trabalhado, com opções estéticas e sonoras que põem em destaque a voz e os textos. Por isso mesmo foi pena que não pudessem ser distribuídos os textos das canções do programa, que podiam ajudar nalguns casos a decifrar arcaísmos de linguagem.

Seguiram-se canções e peças ibéricas do Renascimento. Novamente houve problemas de afinação no início da segunda parte com Un'amiga tengo, hermana. Mas seguiu-se um belo percurso, quase sem espinhas, com momentos altos em Na Fonte está Lianor ou Parti ledo por te ver (do cancioneiro de Elvas), com Susana Teixeira, Maria Repas Gonçalves e Sérgio Peixoto em grande forma. As vozes femininas cantaram com particular sensibilidade Si los delfines, versos musicados de Miguel de Fuenllana. Pelo meio, pequenos e interessantes momentos instrumentais, sobretudo a Fantasia de Luís Milán e, apesar dos tropeções, a excelente obra de Luís Narváez sobre Guardame las vacas.

O programa completava-se com um regresso ao Natal e um final delicioso (e entusiasmado), com um vilancico de fins do século XV, num crioulo antigo guineo-português. E então se confirmaram algumas das melhores qualidades do grupo: boa ligação entre as vozes e criação de timbres e sonoridades não convencionais. E sobretudo o facto de serem agradáveis e ricas vozes humanas, não formatadas, e cuidadosas com a dicção e a articulação. Coisas com muita importância, porque cantar é também contar, dizer, narrar. Neste caso, contar histórias de amor muito antigas.

Pedro Boléo

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